Como escolher a especialidade médica?

Em janeiro de 2020, havia 478010 médicos em atividade no Brasil. Desses, 61,3% possuíam um ou mais títulos de especialista, o que resulta em uma razão de 1,58 especialista para cada generalista. Segundo o estudo “Demografia Médica no Brasil”, são consideradas 55 especialidades médicas reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Médica Brasileira (AMB) (1).

Nesse sentido, ao transcender a realidade do país e mudar o foco para os acadêmicos, é muito comum que os estudantes de medicina tenham dúvidas sobre qual especialidade médica escolher, já que existem variados focos e pontos envolvidos nessa decisão. Por isso, existem algumas perguntas que esses futuros médicos podem e devem fazer a si mesmos para auxiliar na escolha de qual caminho seguir. Primeiramente, quais são as áreas de interesse? É importante listar quais órgãos, sistemas ou temáticas gerais chamam mais a atenção e despertam mais a curiosidade de cada um. Ademais, existe preferência por uma especialidade majoritariamente cirúrgica, clínica ou seria a melhor escolha algo que pudesse proporcionar ambas? O acadêmico deve considerar se tem mais interesse em ter uma especialidade mais orientada a procedimentos ou se gosta mais da relação médico-paciente e do raciocínio clínico. Como exemplo, a Radiologia é uma especialidade mais focada em visualização de imagens, procedimentos e laudos diagnósticos, enquanto a Medicina da Família proporciona um contato aprofundado e de longo prazo entre o médico e seus pacientes. Outro ponto muito importante a ser considerado é a vontade do estudante de seguir interesses não médicos, como pesquisa e ensino, pois, nesse caso, a especialidade escolhida deve permitir que o profissional tenha esse leque de possibilidades. Além disso, com que tipo de paciente esse profissional gostaria de lidar? Por exemplo, oncologistas têm pacientes, na maioria das vezes, graves ou terminais, pediatras trabalham com crianças e geriatras têm pacientes idosos. Existe preferência, facilidade ou dificuldade de se relacionar com algum desses grupos? Finalmente, qual é a importância do equilíbrio entre trabalho, lazer e salário? É essencial escolher uma especialidade médica que seja condizente com sua capacidade de trabalho e com seu estilo de vida pessoal, já que a vida dos médicos vai muito além da medicina. De forma geral, as especialidades cirúrgicas tendem a ser mais bem remuneradas que as clínicas, enquanto especialidades como Radiologia, Dermatologia, Neurologia e Anestesia tendem a permitir um melhor controle sobre as horas de trabalho. (2)

Ademais , devem ser considerados dados sobre o número de médicos em cada especialidade e a sua distribuição por região do Brasil. Existem quatro especialidades que, juntas, concentram 38% dos especialistas. São elas: Clínica Médica (11,3% de todos os especialistas), Pediatria (10,1%), Cirurgia Geral (8,9%) e Ginecologia e Obstetrícia (7,7%). (1) É essencial pesquisar sobre tais dados em sua própria região, a fim de entender como é o mercado de trabalho em sua área para a escolha da especialidade médica.

Dessa forma, mostra-se inegável a dificuldade e a complexidade de se balancear os diversos aspectos que devem ser considerados para a escolha de uma especialidade. Por isso, existem algumas opções para os estudantes que desenvolvam dúvidas em relação às respostas das perguntas supracitadas. Primeiramente, consulte a Resolução do CFM Nº 2.221/2018 (3), que possui a relação de especialidades médicas reconhecidas e o tempo de residência de cada uma. Além disso, existem três livros bem conceituados que foram escritos para ajudar a escolher uma especialidade médica: “The Ultimate Guide to Choosing a Medical Specialty”, de Brian S. Freeman, “How to Choose a Medical Specialty", de Anita D. Taylor e “On Becoming a Doctor”, de Tanya Eller. Por último, converse com médicos de confiança, tutores e se imagine naquela especialidade durante o ciclo clínico na faculdade. (2) Tais dicas ajudarão os estudantes de Medicina a conhecerem melhor sobre a área e, consequentemente, a se conhecerem melhor para, por fim, levar em consideração os tópicos principais para a escolha de sua especialidade, os quais foram citados anteriormente.

Autores: Comissão de Ensino Médico da Sociedade de Acadêmicos de Medicina de Minas Gerais (SAMMG) - Mariana Muzzi e Bruna Reale

Referências bibliográficas

(1) Scheffer M, Cassenote A, Guerra A, Guilloux AG, Brandão AP, Miotto BA, et al. Demografia Médica no Brasil 2020 [bibliography on the Internet]. São Paulo, SP: [publisher unknown]; 2020 [cited 2022 Apr 3]. 312 p. Available from:  https://www.fm.usp.br/fmusp/conteudo/DemografiaMedica2020_9DEZ.pdf

(2) Totman A. Roadmap to Choosing a Medical Specialty: Questions to Consider [bibliography on the Internet]. Stanford, CA: [publisher unknown]; 2015 [cited 2022 Apr 3]. 4 p. Available from: https://med.stanford.edu/content/dam/sm/md/documents/resources/Roadmap-to-Choosing-a-Medical-Specialty-.pdf

(3) CFM. RESOLUÇÃO CFM Nº 2.221/2018 [bibliography on the Internet]. Brasília: [publisher unknown]; 2018 [cited 2022 Apr 3]. 25 p. Available from: https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2018/2221