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Comportamento e dinâmica no Bloco Cirúrgico

Comportamento e dinâmica no Bloco Cirúrgico

05/SET/2021

Carreira Médica

O Bloco Cirúrgico (BC) é uma das mais importantes estruturas em um hospital. É nele que são realizados os procedimentos cirúrgicos e, dessa forma, os erros relacionados ao seu funcionamento e instalação não devem ocorrer (1) (2). Ao se tratar do BC, é necessário entender que um simples erro pode levar a diversas complicações pós-operatórias, que podem estar relacionadas a falhas de caráter individual, de planejamento e até mesmo de inadequação estrutural (1) (2). Nesse contexto, se torna fundamental entender melhor o comportamento e a dinâmica no bloco cirúrgico, abordando desde seu planejamento físico até as relações interpessoais naquele meio, sejam elas entre o médico e o paciente ou entre os profissionais da equipe cirúrgica.

 

Arquitetura do Bloco Cirúrgico:

Quando se aborda a arquitetura do BC, é importante entender que ele possui uma alta complexidade e que ele a sua construção devem ser pensadas de maneira a promover um melhor atendimento às necessidades dos profissionais de saúde quanto do paciente. Em relação aos componentes do bloco cirúrgico, podemos citar:

 

Vestiários

Devem existir dois vestiários, masculino e feminino. Dentro deles, devem haver armários individuais com chaves e cadeados para guardar os pertences dos usuários, além de sanitários completos, incluindo chuveiros e lavabos (1) (2).

 

Sala de conforto

Salas como essas são fundamentais para o descanso dos profissionais da saúde, além de evitarem a circulação desnecessária de pessoas em ambientes inadequados. Ademais, servem também para lanches rápidos, evitando a circulação de alimentos em outros ambientes do centro cirúrgico (1) (2).

 

Sala de recepção dos pacientes

Esse compartimento serve para que os pacientes, que serão submetidos a procedimentos cirúrgicos, permaneçam até o momento que sejam conduzidos para a sala de operação (1) (2).

 

Sala de Equipamentos

Somente devem ser guardados nessa sala os equipamentos que estiverem prontos e em condições de uso imediato, ou seja, materiais testados e estéreis. Alguns exemplos de equipamentos que ficam nessa sala são: microscópios, monitores cardíacos, respiradores, bisturis, entre outros (1) (2) (3).

 

Sala para armazenamento de material esterilizado

Esse compartimento serve para armazenar materiais estéreis provenientes do centro de materiais esterilizados. Alguns exemplos de equipamentos que ficam nessa sala são: aventais, pacotes de campos, caixa com o instrumental cirúrgico, entre outros (1) (2) (3).

 

Lavabos

Área específica para a escovação dos integrantes da equipe cirúrgica. É fundamental que as torneiras tenham mecanismos para serem abertas ou fechadas sem o uso das mãos, sendo que os tanques devem ser profundos (0,50 m). É imprescindível que no local haja escovas descartáveis e solução anti-séptica (1) (2).

 

 Sala Cirúrgica

É a área em que são realizadas as intervenções cirúrgicas. É composta de mesa de operação, mesas de instrumental, mesa para o anestesista, assim como os aparelhos de anestesia e respiração (1) (2) (3).

 

Sala de recuperação pós-anestésica

Esse compartimento é destinado à permanência do paciente no período pós-operatório imediato. Alguns pacientes chegam a recuperar a consciência e os reflexos na sala de operação, independente disso, o paciente deve ser mantido sob vigilância constante e rigorosa. Em relação ao tempo de permanência do indivíduo, essa dependerá da análise do cirurgião que no momento adequado fará o encaminhamento para as enfermarias (1) (2) (3).

 

Sala de depósito de gases medicinais

Nada mais é do que uma área onde são armazenados torpedos contendo gases medicinais, por exemplo, oxigênio, óxido nitroso, dióxido de carbono e nitrogênio (1) (2).

 

Expurgo

Componente do bloco cirúrgico onde se desprezam as secreções descartadas nas salas de cirurgia. Deve conter pias com bancada em inox para higienizar os instrumentos usados nos procedimentos (1) (2).

 

 


 Relação entre médico e paciente:

 

A relação entre médico e paciente é fundamental para o sucesso de qualquer procedimento cirúrgico, uma vez que o médico precisa estabelecer um relacionamento de confiança com seu paciente, a fim de que o indivíduo siga as orientações pré e pós cirúrgicas, além de que haja um prosseguimento em seu acompanhamento (4) (5).

Desde a instalação da doença, sobretudo se associada à necessidade de hospitalização, a vida do paciente muda significativamente. Nesse contexto, o enfermo se vê numa posição diferente da habitual, sendo que a inatividade, perda do controle pessoal, dúvidas em relação à cura e o medo da morte geram um estado de tensão emocional que dificulta a compreensão da situação na sua totalidade (4) (5).

Tendo esse cenário em vista, devemos relatar que nessa situação o médico pode ser visto pelo paciente como uma figura paternal poderosa e onipotente, fenômeno esse que é conhecido como transferência. Em contrapartida, a responsabilidade é toda depositada sobre o cirurgião. Nesse caso, o cirurgião também pode ser influenciado por esse clima, manifestando ansiedade, tensão, insegurança, entre outros. Chama-se de contratransferência o sentimento do profissional de saúde em relação ao enfermo, sendo decorrente da sua resposta às angústias nele depositado por parte do paciente (4).

É importante entender que a transferência e a contratransferência configuram em cada situação médica um vínculo único, sendo que, se adequado, leva a um curso natural e produtivo (4).

Ao se esclarecer esse cenário, fica evidente como é importante que o médico estabeleça uma relação de confiança com seu paciente, tirando todas as dúvidas do paciente da maneira mais sutil possível, uma vez que o mesmo se encontra em momento extremamente vulnerável. Ademais, a influência que o cirurgião exerce sobre o paciente depende mais da qualidade de comunicação interpessoal do que da quantidade de horas gastas fornecendo atenção ao enfermo. O médico deve assumir uma postura firme e neutra, tentando se adequar às particularidades de cada paciente (4) (5).

Nesse contexto, também deve-se ressaltar que a postura inadequada do médico, seja ela por meio de conduta apática, aceitação inconsciente de onipotência e até resignação, pode acarretar em diversas consequências, desde o fracasso até o abandono do tratamento (4) (5).

Por fim, é importante lembrar que a comunicação entre ambos deve partir de uma linguagem de compreensão clara, sem fuga da veracidade, sendo o ritmo do paciente respeitado pelo médico, preservando a autoestima do mesmo e nunca tirando sua esperança (4) (5).

 


Relação entre a equipe cirúrgica:

 

Quando pensamos no bom funcionamento do BC, a comunicação e o trabalho em equipe são determinantes na qualidade da assistência ao paciente. Ao estabelecer uma confiança entre os componentes da equipe cirúrgica, em que a liberdade de expressão contribui para um convívio harmonioso e prazeroso, o trabalho torna-se cooperativo, levando a credibilidade e ao reconhecimento da equipe, melhorando de uma forma geral as condições de trabalho de todos (6) (7).

Por outro lado, o convívio em um ambiente tenso e conflituoso pode acarretar desintegração de esforços e dificuldades relacionais entre a equipe cirúrgica. Ademais, devido à alta complexidade deste meio e recorrente estresse vivenciado pela equipe cirúrgica, pode acontecer de conflitos emergirem, desgastando a todos os participantes da equipe cirúrgica (6) (7).

Com o intuito de amenizar tais conflitos, é indispensável que haja a utilização de ferramentas administrativas da comunicação, da negociação e do trabalho em equipe (6) (7).

Em se tratando dessas ferramentas, a comunicação eficaz torna-se indispensável para o bom desenvolvimento do trabalho, uma vez que ela é o elo de interação que fortalece o vínculo entre a equipe interdisciplinar e o cliente, sendo assim determinante na qualidade do serviço ofertado para o mesmo (6) (7).

Ademais, é necessário entender que todas as profissões que atuam na área da saúde são importantes para que o resultado final seja o melhor possível. Nesse contexto, as diferenças na formação de cada uma delas devem ser levadas em consideração e respeitadas, a fim de evitar que ocorram atuações indevidas e invasões no espaço que de atuação que não é de sua responsabilidade e, dessa forma, evitar prejuízos para a população (8).

 

Autoria: Comissão Ensino Médico: Gustavo Henrique Rodrigues Meneses, Maria Eduarda dos Santos Alves e Laryssa Reis Coelho

 

 

Referências:

1. GOFFI, F. Técnica Cirúrgica: bases anatômicas e fisiopatológicas e técnicas de cirurgia. 4ª. Ed. São Paulo: Atheneu, 2007.

2.  MEDEIROS, Aldo Cunha; ARAðJO FILHO, Irami. Centro cirúrgico e cirurgia segura. Natal, 28 jul. 2017.

3. Manual de processos de trabalho da divisão do centro cirúrgico: CC central, CC ambulatorial e unidade cirúrgica de emergência / Universidade Estadual de Campinas – Hospital da clinicas da Unicamp. 2. Ed. Campinas, 2014.

4. Ceneviva  R,  Castro  e  Silva  Jr  O.  O  paciente  cirúrgico  -  relação  médico  paciente.  Ribeirão  Preto, 2008;

5. COSTA, Fabrício Donizete da; AZEVEDO, Renata Cruz Soares de. Empatia, relação médico-paciente e formação em medicina: um olhar qualitativo. Revista Brasileira de Educação Médica, [S.L.], v. 34, n. 2, p. 261-269, jun. 2010. FapUNIFESP (SciELO).

6. SANTOS, Kezia Cristina Batista dos et al. Comunicação e relacionamento interpessoal no centro cirúrgico: aplicação da metodologia da problematização. Revista Eletrônica Acervo Saúde, [S.L.], n. 24, 26 jun. 2019. Revista Eletronica Acervo Saude.

7. CAREGNATO, Rita Catalina de Aquino; LAUTERT, Liana. O estresse da equipe multiprofissional na Sala de Cirurgia.  [S.L.], v. 58, n. 5, p. 545-550, out. 2005. FapUNIFESP (SciELO).

8. GOMES, Maria do Carmo de Souza Mota Avelar. ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO CENTRO CIRÚRGICO DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS. 2009. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.