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Dicas para acompanhar médicos

Dicas para acompanhar médicos

02/MAI/2022

Carreira Médica

Acompanhar plantões e/ou cirurgias é, indiscutivelmente, uma das atividades que mais empolga estudantes de medicina (sobretudo dos primeiros períodos, nos quais há relativamente pouco contato com a prática médica). Sendo assim, exercer tal atividade é uma (se não a) melhor forma de aprender a aplicação da teoria médica na prática em si e, também, de conhecer pessoas novas (e, com isso, expandir seu networking e ganhar novas oportunidades). No entanto, não basta apenas estar presente na rotina dos médicos que você acompanha: é importante se dedicar e fazer com que você ganhe destaque entre as demais pessoas. Para isso, é importante manter uma postura profissional, respeitosa e proativa – e aqui vão algumas dicas para você dominar esse assunto.

 

Em primeiro lugar, é importante já começar bem: uma boa apresentação é (literalmente) o primeiro passo para que você consiga qualquer oportunidade. Sendo assim, comece falando quem você é – sua faculdade, seu período, seus interesses e afins. É racional pensar que ninguém aceitaria receber desconhecidos no ambiente de trabalho. Ainda, você deve ‘fazer o dever de casa’: mostrar que você pesquisou sobre o (a) profissional em questão é um passo de extrema importância. Sendo assim, mencionar o currículo da pessoa, os treinamentos que ela tem, sua linha de pesquisa e demais atividades serve para mostrar que você realmente está interessado (a) e já é um primeiro sinal de proatividade, um dos pilares da relação profissional. Encontrar uma conexão entre você e o médico é, também, uma ação que justifica seu interesse. Por exemplo, ao acompanhar um (a) infectologista, mencione que você era bastante envolvido nas aulas de parasitologia ou de microbiologia. Mantenha, ainda, o profissionalismo: evite uma abordagem informal com gírias ou abreviações (afinal, você está entrando em contato com um profissional), mas também não precisa ser bajulador ao extremo – o equilíbrio é o ideal. A boa postura e um interesse explícito, honesto e justificado são cruciais na primeira abordagem.

 

Além da postura profissional e da demonstração de interesse por parte do estudante, buscando extrair o melhor da experiência para sua formação profissional, um dos pontos cruciais e extremamente valorizados pelos médicos ao serem acompanhados por acadêmicos é a demonstração de proatividade. Nesse sentido, segundo Bateman e Crant (1), o comportamento proativo pode ser definido como uma disposição que os indivíduos apresentam em alterar o ambiente no qual estão inseridos, sem que, necessariamente, ocorram situações que os motivem a atuar dessa forma. De maneira mais abrangente, no estudo desses autores, processos proativos podem ocorrer em distintos níveis organizacionais, com importante relevância para as atividades em grupo, na medida em que estas devem ser conduzidas proativamente no sentido de auxiliar positivamente os grupos interdependentes.

 

No contexto do acompanhamento do plantão por parte do estudante, as formas de demonstração de proatividade podem ser variadas, partindo da execução de tarefas básicas que, de alguma forma, auxiliam o médico, como buscar o material a ser usado, a exemplo de um receituário; ou ações mais complexas, como auxiliar em procedimentos. No entanto, independentemente da forma como o acadêmico for requisitado durante o serviço, o comportamento proativo pode ser observado ao se antecipar às possíveis demandas do trabalho e se mostrar disponível e acessível para resolvê-las da melhor forma possível. Essa concepção se opõe ao que Bateman e Crant definem como “relativamente passivos”, isto é, indivíduos que necessitam ser influenciados pelo ambiente para apresentar mudança de atitude (1).

 

Portanto, sabendo que, nesse ambiente, o acadêmico pode vir a ser mais uma preocupação para o médico (visto que está sob a responsabilidade deste), cabe ao estudante demonstrar iniciativa, buscando por oportunidades, sem se queixar pela execução de tarefas mais simples. Nessa relação, a confiança deve ser construída paulatinamente em uma via de mão dupla e, gradativamente, ao se aproveitar as oportunidades dadas e demonstrar comprometimento na execução destas, o acadêmico poderá conquistar seu espaço na equipe.

 

O ato de acompanhar plantões, atendimentos ou cirurgias envolve, também, saber conciliar suas expectativas com as dos médicos. Ninguém espera que acadêmicos sejam capazes de fazer diagnósticos difíceis ou sugerir tratamentos inovadores. Por isso, o que você tem a oferecer é a proatividade e a capacidade de tornar as coisas mais fáceis para os profissionais de onde você está inserido (a). Estudos que analisam o resultado da implementação de serviços de job shadowing para acadêmicos já mostram que ambas as partes (estudantes e profissionais) se beneficiam mutuamente durante os acompanhamentos das atividades (2). Em troca do seu esforço, você ganha não apenas conhecimento médico (pois o aprendizado prático é, como todos nós sabemos, bem mais interessante), mas, também, a construção de relações que se tornam duradouras: o simples fato dos médicos, enfermeiros e demais profissionais se lembrarem de você já é um indicativo de que seu networking está se expandindo. E, nos dias de hoje, é inegável que o QI (‘quem indica’) é um dos aspectos que mais pesa para abrir oportunidades na carreira (seja na graduação, como em uma carta de recomendação; seja em entrevistas de emprego ou demais processos seletivos). Fortalecer suas relações profissionais é, certamente, fortalecer sua trajetória.

 

Por último, é importante saber também o que não fazer. Como já dito, você deve ser capaz de antecipar as demandas: viu que toda manhã os médicos anotam os dados vitais do monitor? Pois não tenha medo de tomar iniciativa e começar a fazer isso por eles – não espere ninguém te pedir. Manter uma expressão de mau humor ou, ainda, fugir do trabalho pode passar a impressão de que você está desinteressado (a) e, certamente, os profissionais que estão ao seu redor não querem trabalhar com alguém assim por perto. Em seu livro ‘Dar e Receber’, um dos best-sellers sobre liderança, Adam Grant menciona que as pessoas que mais se beneficiam das suas relações profissionais são os ‘doadores’, ou seja, aqueles que ajudam os seus superiores sem esperarem nada em troca (3). No âmbito médico, isso se traduz em proatividade: evite ficar sentado (a) com o celular e bote a mão na massa.

 

Em suma, fica evidente que acompanhar qualquer médico (a), seja no campo clínico ou cirúrgico, é algo que perpassa aspectos éticos e profissionais (assim como diversas outras atividades na medicina). Os benefícios dessa atividade envolvem não apenas o aprendizado técnico, mas também a construção de uma relação com os profissionais já formados: ao ganhar destaque em certo hospital ou clínica, seu networking é expandido e, por conseguinte, mais oportunidades tendem a surgir na carreira. Dedicação, profissionalismo e uma postura adequada são aspectos chave para tal ganho de destaque e, por isso, acadêmicos de medicina devem ser capazes de explorar tais aspectos quando acompanharem médicos.

 

Autores: Comissão de Ensino Médico da Sociedade de Acadêmicos de Medicina de Minas Gerais (SAMMG) -  Eduardo Maia e Raquel Fuccio

 

 

Referências bibliográficas:

(1) Bateman T, Crant J. The proactive component of organizational behavior: A measure and correlates. Journal of Organizational Behavior [Internet]. 1993 [cited 10 April 2022];14(2):103-118. Available from: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/job.4030140202


(2) Thang C; Barnette NM; Patel KS; Duong C; Dejam D; Yang I; Lee JH. Association of Shadowing Program for undergraduate premedical students with improvements in understanding medical education and training [Internet]. Cureus. U.S. National Library of Medicine; 2019 [cited 2022Apr8]. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31942265/


(3) Grant A. Give and take: why helping others drives our success. New York, NY: Penguin Books; 2014.