Medicina em Minas Gerais

Últimas do Blog

Fique por dentro das novidades e aprimore seu conhecimento!

Importância do diagnóstico e tratamento da psoríase

Importância do diagnóstico e tratamento da psoríase

23/AGO/2022

Saúde

Psoríase é uma doença crônica inflamatória, sistêmica e não contagiosa, que afeta a pele, a musculatura esquelética e as articulações, mas também pode atingir outros órgãos. Essa inflamação é causada pela hiperproliferação de queratinócitos a partir da ativação do sistema imunológico, que resulta em descamação que pode provocar lesões. O aparecimento das lesões depende de fatores genéticos, ambientais e comportamentais e suas manifestações clínicas são variáveis (1, 2, 3).

 

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a psoríase é uma doença que afeta cerca de 100 milhões de indivíduos em todo o mundo, sendo um problema global sério. Em 2011, a OMS realizou uma pesquisa no Brasil indicando que, a cada 12.000 indivíduos com 18 anos ou mais, 1,3% destes são afetados pela psoríase (4). A Sociedade Brasileira de Dermatologia realizou, entre outubro de 2015 a janeiro de 2016, pesquisa que indicou que, no Brasil, os idosos são os mais acometidos, com incidência de 2,29% da doença entre maiores de 60 anos, contra 0,58% de incidência entre menores de 30 anos e 1,39% em indivíduos de 30 a 60 anos. Os casos se concentram principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país (5).

 

A fisiopatologia da doença consiste no crescimento excessivo de células epiteliais, formando placas eritematosas bem demarcadas e levantadas, e está acompanhada de inflamação. Essas lesões são causadas por alterações das células epiteliais, juntamente com hiperplasia vascular, ectasia e infiltração de leucócitos e mediadores inflamatórios na pele afetada. Os mecanismos patológicos específicos que propiciam o desenvolvimento da psoríase são complexos, caracterizando uma doença multifatorial (1, 6).

 

Os fatores imunomediados consistem na hiperativação de células dos sistemas imunológicos inato e adaptativo, que, por sua vez, ocasiona a hiperproliferação e diferenciação anormal de células epidérmicas. Enquanto que em um indivíduo sadio a regeneração epidérmica ocorre a cada 21 a 28 dias, em um paciente com psoríase, a epiderme se regenera a cada 3 a 4 dias. Esses queratinócitos mediam a resposta imune, recrutando células dendríticas, que, por sua vez, liberam mediadores inflamatórios, como as interleucinas 12 e 23, que ativam as células T, as quais produzem citocinas causadoras da psoríase: IL-17, IL-22, interferon-gama e fator de necrose tumoral-alfa (6).

 

A literatura descreve diferentes tipos da doença, dentre os quais destacam-se psoríase em placa, psoríase do couro cabeludo, psoríase gutata, psoríase pustulosa, psoríase das unhas, psoríase flexural ou inversa e artrite psoriásica. A psoríase em placa é a forma mais comum da doença e afeta cerca de 80% dos pacientes. Pode estar presente em todas as superfícies corporais, porém é encontrada principalmente nos cotovelos, nos joelhos, nas costas e no couro cabeludo. É caracterizada pela presença de placas eritematosas bem definidas, que tendem a ter formato redondo ou oval; são finas, secas e com coloração esbranquiçada. A psoríase do couro cabeludo é a segunda mais comum, afetando de 50% a 80% dos pacientes e é consequência da manifestação da psoríase em placa no couro cabeludo. A psoríase gutata afeta apenas cerca de 2% dos pacientes e é caracterizada pela presença de lesões rosadas em forma de gota de orvalho, com escamas finas. Essas lesões em formato de pápula tendem a afetar principalmente o tronco e as extremidades proximais. A psoríase pustulosa acomete menos de 5% dos indivíduos com psoríase e é caracterizada pela presença de pústulas cheias de pus e inchaço local, sendo mãos e pés os mais afetados. A psoríase das unhas é caracterizada por alterações ungueais que podem ser: corrosão, onicólise (separação da unha do leito ungueal), descamação sob a unha e descoloração translúcida no leito ungueal. A psoríase flexural ou inversa está presente nas áreas onde há dobras cutâneas, como nas áreas genitais, axilares, abdominal, perineal, inframamária e interglútea, devido à umidade presente no local. É uma lesão lisa, avermelhada e pode causar rachaduras na pele. Por fim, a artrite psoriásica acomete cerca de 30% dos pacientes com psoríase e causa inchaço, dor e rigidez nas articulações (1, 6).

 

As lesões da psoríase são desencadeadas por fatores variados, que abrangem climas frios, infecções, estresse e uso de fármacos como bloqueadores adrenérgicos, lítio, inibidores da enzima conversora de angiotensina (iECA), antimaláricos, corticosteróides, dentre outros. A genética é preponderante no desencadeamento dos fatores psoriáticos, sendo o risco 10 vezes maior para os pacientes que possuem familiares de primeiro grau com a doença (1).

 

Normalmente, o diagnóstico é clínico, baseado na presença e identificação das lesões características da doença pelo médico. Os diagnósticos diferenciais da psoríase podem ser desafiadores, assim como a identificação do subtipo da patologia, que, após reconhecido, tem-se a possibilidade de um tratamento com maior direcionamento (6, 7, 8). Pode-se, também, realizar exames complementares, como biópsia de pele em caso de apresentações atípicas da doença, para auxiliar na identificação (8).

 

Embora não haja cura para a psoríase, o tratamento correto é de extrema importância para a manutenção da qualidade de vida do paciente, e ele varia conforme a forma e evolução da doença e a exposição aos fatores desencadeantes. Quando o estadiamento da doença é leve ou moderado, normalmente, o tratamento envolve terapias tópicas que incluem corticosteroides e análogos da vitamina D3, podendo ser prescrito por médicos da atenção primária da saúde. Em casos mais graves, é necessária a terapia sistêmica, tendo como um dos principais medicamentos a acitretina, que deve ser prescrita por um dermatologista (8).

 

A psoríase é uma doença prevalente na população mundial e traz grandes prejuízos à qualidade de vida dos portadores. Mesmo não tendo cura, o diagnóstico correto e o manejo adequado do paciente garantem a manutenção da qualidade de vida; por isso, o preparo do médico para lidar com a situação é fundamental. Devido à importância clínica da doença, foi estipulado o dia 29 de outubro como o dia mundial da psoríase, como uma forma de ressaltar os cuidados a serem tomados para com os portadores da psoríase, para que seus impactos sejam os menores possíveis na vida desses indivíduos.

 

Autores: Comissão de Ensino Médico da Sociedade de Acadêmicos de Medicina de Minas Gerais (SAMMG) - Catharina Ribeiro Guimarães e Daniela da Silva Miranda Freire

 

 

Referências bibliográficas:

1. Armelin E, Fabri E, Nascimento C, Machado BL, Terra MR. Psoríase e suas principais características

2. Jesus NA, Reis LA, Castro JS. Impacto da psoríase na qualidade de vida dos pacientes em tratamento: uma revisão sistemática da literatura. 2016 – Rev InterScientia Vol.4 nº 1. Acesso em 17 de outubro de 2021; Disponível em: < https://periodicos.unipe.br/index.php/interscientia/article/view/507>

3. Machado ER, Oliveira LB de, Chaves PLG, Gomes LORV, Lins JP. Psoríase: uma revisão sistemática da literatura. Rev Inic Cient Ext [Internet]. 10º de junho de 2019 [citado 17 de outubro de 2021];2(Esp.1):52. Disponível em: <https://revistasfacesa.senaaires.com.br/index.php/iniciacao-cientifica/article/view/228>

4. Psoríase Brasil – Relatório global sobre a psoríase – 2017 – Acesso em: 17 de outubro de 2021; Disponível em: < https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/204417/9789241565189-por.pdf?sequence=17&isAllowed=y#:~:text=A%20psor%C3%ADase%20afeta%20pessoas%20de,milh%C3%B5es%20de%20indiv%C3%ADduos%20afetados%20mundialmente.>

5. SBD – Sociedade Brasileira de Dermatologia – Copyright 2017 – Acesso em: 17 de outubro de 2021; Disponível em: <https://www.sbd.org.br/psoriasetemtratamento/noticias/informe-se/sociedade-brasileira-de-dermatologia-sbd-realiza-pesquisa-inedita-na-america-do-sul/>

6. Menter A. Psoriasis and psoriatic arthritis overview. Am J Manag Care. 2016 Jun;22(8 Suppl):s216-24. PMID: 27356193. Acesso em: 17 de outubro de 2021; Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27356193/>

7. Weigle N, McBane S. Psoriasis. Am Fam Physician. 2013 May 1;87(9):626-633; Acesso em: 17 de outubro de 2021; Disponível em: <https://www.aafp.org/afp/2013/0501/p626.html>

8. Kim WB, Jerome D, Yeung J. Diagnosis and management of psoriasis. Can Fam Physician. 2017 Apr;63(4):278-285. PMID: 28404701; PMCID: PMC5389757. Acesso em: 17 de outubro de 2021; Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28404701/>