Medicina em Minas Gerais

Últimas do Blog

Fique por dentro das novidades e aprimore seu conhecimento!

MÉDICO DO FUTURO: A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO

MÉDICO DO FUTURO: A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO

28/JUL/2021

Carreira Médica

 Em 1903, o inventor Thomas Edison, já previa que o médico do futuro seria aquele que não trataria com medicamentos, mas sim que se interessa em cuidar do paciente através da nutrição, seja na cura ou na prevenção. Para isso, a nanotecnologia, a bioengenharia, a medicina regenerativa, a imunoterapia, as cirurgias robóticas, a edição gênica e uma infinidade de novas tecnologias surgem no setor da saúde como forma de ampliar a assertividade terapêutica com métodos incrivelmente inovadores. Nesse contexto, a inteligência artificial (IA) ganha destaque por, não apenas processar dados e entender conceitos, mas “raciocinar” através da possibilidade de integrar novas experiências (1). É, justamente, diante dessa situação que surgem os questionamentos de como será a medicina do futuro e se a profissão médica será substituída por tecnologias.


Tendo em vista esse cenário o grande diferencial do médico frente a um robô não é a capacidade de memorização ou mesmo processamento de informações adquiridas, o que torna um médico especial é o fato de “ser humano”, ou seja, sentir e se colocar no lugar do outro, num ato de empatia, o qual não abrange resolver algum problema, mas engloba a capacidade de compreensão e acolhimento. Assim, numa perspectiva de intensa evolução da medicina, aliada ao avanço tecnológico em patamares surpreendentes, a atuação médica se torna cada vez mais sútil. A informação é acessada como nunca antes. É notório que o conhecimento é cada vez mais democratizado, compreender isso é um passo fundamental para que o médico engaje os pacientes a participarem de forma ativa nos seus tratamentos. Entretanto, apesar de toda sutileza, a atuação médica não se substitui.


Nesse aspecto, o destaque do médico segue a lógica do sistema, não sendo o conhecimento teórico a fonte de encantamento, isso quer dizer que os bons profissionais são aqueles que vão além dos determinantes teóricos. Diante disso, surgem as soft skills, as quais podem ser definidas como habilidades comportamentais com capacidade de aprimorar e integrar várias áreas, tais como comunicação, performance, saúde física e mental, além de diversos valores. Nessa abordagem, é essencial destacar a  importância do desenvolvimento dessas competências pessoais as quais são relacionadas com a comunicação, sendo essencial para realização de uma conexão entre o surpreendente avanço tecnológico e a medicina do futuro. 

 

Assim, é imprescindível que médicos e acadêmicos tenham a consciência de que a IA está transformando a medicina, mas, desde de que exista coragem, vulnerabilidade e compaixão, além da capacidade de enxergar cada paciente como um ser único dotado de princípios e valores próprios, os bons médicos sempre existirão e não serão substituídos. Por mais paradoxal que seja, a IA é uma forma de potencializar a atuação médica (2). Isso se deve em função da imensa capacidade de armazenamento de dados das novas tecnologias, as quais aumentam a precisão dos diagnósticos, a eficácia dos tratamentos e auxilia na prevenção de doenças, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Essa acessibilidade às informações próprias do paciente possibilita um cuidado mais personalizado, eficiente e, até mesmo, mais humano. É nessa perspectiva que a IA pode propiciar um processo de humanização da medicina, uma vez que a integração de dados permite que o paciente seja tratado como um todo, não tratando exclusivamente uma patologia. 


Dessa forma, é relevante mensurar que o principal propósito na escolha da medicina como profissão a ser seguida está relacionado, na maioria das vezes, com o aspecto humano que está envolvido. Salvar vidas é o grande anseio médico. Entretanto, na graduação, os valores humanos não são valorizados quanto deveriam, o foco principal é, quase sempre, procedimentos de maior complexidade, enquanto, o cuidado do paciente em si é deixado de lado. Outrossim, médicos são treinados para tratar doenças e não o indivíduo. Esse modelo educacional tende a ofuscar a empatia, limitar a capacidade de escuta e, como consequência, reduz a efetividade em realmente ajudar o paciente. É necessário estar ciente que, atualmente, gestão de conhecimentos é muito mais satisfatória que a capacidade de memorização. Logo, se há uma falha no processo educacional, é responsabilidade dos futuros profissionais se atentar para a importância da comunicação, especialmente, do desenvolvimento de habilidades para o aprimoramento da relação médico-paciente, a fim de receber destaque em um cenário cada dia mais competitivo e tecnológico.


Para mais, com relação ao que será a medicina no futuro, respostas concretas são improváveis, porém há uma previsão de que será aquela que estará baseada no reconhecimento daquilo que nos faz humanos, na capacidade de reconhecer que a sociedade é depende, as pessoas dependem umas das outras, e reconhecer também que o bem-estar individual está relacionado com o bem-estar comum. Todas essas características citadas independem de tecnologias. Angela DePeace, professora da Escola de Medicina Harvard diz que “Neste novo mundo, não será suficiente para os cientistas serem gênios isolados trabalhando sozinhos no laboratório” (3). Assim, a tendência é que a medicina se torne cada dia mais centrada nas pessoas, essa prática inclusive já é reconhecida como o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP), o qual propõem o fortalecimento da capacidade dos pacientes de fazerem escolhas próprias com relação às decisões terapêuticas, de modo que esse indivíduo seja atuante no estabelecimento da sua própria saúde (4). Se o foco é o paciente, é responsabilidade do médico avaliá-lo e tratá-lo como um ser repleto de emoções e demandas pessoais, sendo essencial o envolvimento através da empatia, atenção e compaixão. 


É comum pensar que o médico não deve se envolver emocionalmente, mas não se sabe até que ponto isso é verídico. O não alinhamento do médico com o paciente pode resultar em baixa adesão terapêutica, resultados clínicos insatisfatórios e esgotamento profissional. É importante ter em mente que a comunicação é uma forma de aliviar o sofrimento e falhas nesse veículo de contato é a principal causa de processo ético-legal. Como diz, Theodore Roosevelt “a família e o paciente não se importam sobre o quanto você sabe, até que saibam o quanto você se importa”, portanto, lidar com a emoção chega a ser até mais importante que fornecer informações detalhadas (5). Assim como citado anteriormente, a empatia é um ingrediente fundamental para desenvolver a comunicação, entretanto, é necessário também autenticidade, respeito, capacidade de lidar com condições cognitivas e emocionais, além da valorização das preferências e valores do paciente como centro do plano terapêutico. Desse modo, tanto a comunicação quanto a ética são estabelecidas satisfatoriamente. 


Por fim, fica a reflexão sobre o que é ser um bom médico. É indispensável mensurar que isso depende de um espectro abrangente de características, mas, com certeza, aquele que pratica o autoconhecimento e dar os devidos valores aos pilares da formação, os quais incluem conhecimento teórico, habilidades práticas, relação de comunicação e comportamento ético, apresenta o essencial para o reconhecimento do seu trabalho e admiração por parte das pessoas que necessitam desse profissional em momentos de vulnerabilidade. 


Autoria: Comissão Ensino Médico: Gustavo Henrique Rodrigues Meneses e Maria Eduarda dos Santos Alves

 


REFERÊNCIAS


Luiz Carlos Lobo. Inteligência Artificial e Medicina. Rev. bras. educ. med., 2(41), 04 2017. URL
https://www:scielo:br/scielo:php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022017000200185.


Cezar Taurion. O futuro já chegou à medicina. Epub, 2020/Dezembro. URL https://neofeed:com:br/report/report-o-futuro-chegou-a-medicina:pdf.

Jake Miller. The Future of Medicine. Epub, 2018/5 de Outubro. URL https://hms:harvard:edu/news/future-medicine.

Mírian Santana Barbosa and Maria Mônica Freitas Ribeiro. O método clínico centrado na pessoa na formação médica como ferramenta de promoção de saúde. REVISTA MEDICA DE MINAS GERAIS, 26(8):01 – 07, JULHO 2016. ISSN 2238-3182. URL http://rmmg:org/artigo/detalhes/2152.

Laura J. Hinkle, Gabriel T. Bosslet, and Alexia M. Torke. Factors Associated With Family Satisfaction With End-of-Life Care in the ICU. Epub, 2015/1 de Janeiro. URL https://journal:chestnet:org/article/S0012-3692(15)30237-3/fulltext.