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Mitos e verdades sobre a cirurgia bariátrica

Mitos e verdades sobre a cirurgia bariátrica

23/AGO/2022

Saúde

A cirurgia bariátrica é um procedimento recomendado para o controle e para o tratamento da obesidade severa, buscando prevenir o desenvolvimento de disfunções para os quais tal condição é fator de risco, como Diabetes Mellitus tipo 2, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares (1) Segundo dados da Organização Mundial da Saúde em 2021, desde 1975, o número de pessoas obesas triplicou, acompanhando as tendências mundiais de ingestão de alimentos calóricos e de aumento do sedentarismo associado às novas formas de trabalho e de transporte e à urbanização (2). Sendo assim, devido à alta incidência de tais casos, a cirurgia bariátrica foi incluída entre os procedimentos cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em 1999 e, entre os anos de 2011 e 2018, o número de pacientes operados cresceu 84,73% no Brasil, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) (3).

 

Nesse contexto, a Portaria nº 424, de 19 de março de 2013 do Ministério da Saúde, que estabeleceu as diretrizes do tratamento e da prevenção do sobrepeso e da obesidade, determinou que a indicação da cirurgia bariátrica como parte do tratamento integral de pacientes com obesidade é para indivíduos: (4)

a) Que apresentem IMC superior ou igual a 50 kg/m²;

b) Que apresentem IMC superior ou igual a 40 kg/m², com ou sem comorbidades, sem sucesso no tratamento clínico longitudinal realizado na Atenção Básica ou na Atenção Especializada por pelo menos dois anos e que tenham seguido protocolos clínicos;

c) Que apresentem IMC superior a 35 kg/m², com comorbidades, como Diabetes Mellitus e doenças de alto risco cardiovascular, sem sucesso no tratamento clínico longitudinal por pelo menos dois anos e que tenham seguido os protocolos clínicos.

 

Acerca do procedimento, conforme determinado pela Portaria nº 5, de 31 de janeiro de 2017 do Ministério de Saúde, foi instituída a cirurgia bariátrica por videolaparoscopia no âmbito do SUS, tornando o processo menos invasivo (5). Nesse sentido, conforme pontuado pela SBCBM, as duas principais técnicas cirúrgicas envolvidas são: (6)

- Bypass Gástrico (gastroplastia com desvio intestinal em “Y de Roux”): corresponde a 75% das cirurgias realizadas devido à sua segurança e eficácia. É feito um grampeamento de parte do estômago, levando à restrição alimentar, associado ao desvio do intestino inicial, auxiliando na sensação de saciedade mediada por controle hormonal.

- Gastrectomia vertical (cirurgia de Sleeve): técnica restritiva em que o estômago é transformado em um tubo estreito, com remoção de parte dele. Dentre seus resultados, destacam-se, sobretudo, a eficácia na perda de peso, no controle de hipertensão, de doenças associadas a lipídeos e de Diabetes, de forma que esta é uma técnica cada vez mais usada pelos cirurgiões.


Uma das crenças mais comuns envolvendo a cirurgia bariátrica é a de que qualquer pessoa acima do peso pode ser submetida a tal procedimento. Entretanto, a indicação dessa cirurgia se baseia no cumprimento de diversos critérios, tais como os listados acima. Ainda, como qualquer outro procedimento invasivo, existem riscos cirúrgicos e contraindicações, os quais devem ser analisados individualmente e levam em consideração as condições pré-existentes dos pacientes (como a presença de diabetes, doenças cardiovasculares e demais comorbidades).

 

Há, ainda, a crença de que a cirurgia possibilita apenas uma redução de massa corporal, sem demais benefícios. No entanto, em comparação a pacientes que não foram submetidos à cirurgia, pacientes com bariátrica tendem a viver por mais tempo e são menos propensos a desenvolver problemas de saúde relacionados à obesidade (7).

 

Em relação ao pós-operatório, muitas pessoas acreditam que os pacientes submetidos à cirurgia bariátrica têm redução no risco de ganhar peso e, assim, podem comer de tudo pois não tendem a engordar. Tal ideia de que a cirurgia é uma garantia de emagrecimento é falsa, visto que a eficiência da bariátrica só é alcançada se combinada com hábitos saudáveis, como a prática de exercício físico e, sobretudo, uma dieta apropriada (com a adequação dos micro e dos macronutrientes) (8). Os pacientes podem, de fato, comer alimentos que gostam; entretanto, deve ser tomado o devido cuidado: é possível que a quantidade ingerida de tais alimentos deva ser, por exemplo, reduzida. Caso não exista a adoção de tais hábitos, os pacientes podem voltar a ganhar peso. Sendo assim, é verdade que os pacientes devem fazer acompanhamento médico pelo resto da vida, dado que os hábitos podem, conforme dito, interferir nos resultados esperados após a cirurgia. De maneira oposta, há uma crença comum de que a maioria dos pacientes volta a ganhar peso após a cirurgia, o que não condiz com estudos já realizados (8): na vasta maioria dos pacientes em que houve a combinação da cirurgia com uma dieta adequada, não houve ganho de peso no pós-operatório.

 

Ainda, é também verdade que, após o procedimento, existe o surgimento de deficiências de nutrientes, sobretudo de vitamina B12, folato, ferro, tiamina, cálcio e vitamina D. O grau de deficiência de cada um dos nutrientes (assim como a frequência de reposição necessária) varia conforme cada tipo de cirurgia e cada paciente, e os sintomas geralmente não são específicos (8); entretanto, é importante ter o conhecimento prévio de que algumas alterações metabólicas podem surgir após a operação e os pacientes devem ter em mente que a adequação da dieta (juntamente com a reposição de nutrientes) é de extrema importância.

 

Autores: Comissão de Ensino Médico da Sociedade de Acadêmicos de Medicina de Minas Gerais (SAMMG) - Eduardo Maia, Júlia, Raquel de Fuccio e Rayssa Couto

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


1. Carvalho A, Rosa R. Cirurgias bariátricas realizadas pelo Sistema Único de Saúde no período 2010-2016: estudo descritivo das hospitalizações no Brasil*. Epidemiologia e Serviços de Saúde [Internet]. 2019 [cited 27 May 2022];28(1). Available from: https://www.scielo.br/j/ress/a/53H4f49kBHmGVSDX5dSLbZk/?lang=pt#top

2. Obesity and overweight [Internet]. Who.int. 2022 [cited 27 May 2022]. Available from: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight 

3 Cirurgia bariátrica cresce 84,73% entre 2011 e 2018 - SBCBM [Internet]. SBCBM. 2022 [cited 27 May 2022]. Available from: https://www.sbcbm.org.br/cirurgia-bariatrica-cresce-8473-entre-2011-e-2018/

4 Ministério da Saúde. Portaria MS/GM nº 424. Redefine as diretrizes para a organização da prevenção e do tratamento do sobrepeso e obesidade como linha de cuidado prioritária da Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas [Internet]. Brasília: Diário Oficial da União; 2013 [cited 2022 Mai 27]. Availabe from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0424_19_03_2013.html

5. Ministério da Saúde. Portaria MS/SCTIE nº 5. Torna pública a decisão de incorporar o procedimento de cirurgia bariátrica por videolaparoscopia no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS [Internet]. Brasília: Diário Oficial da União; 2017 [cited 2022 Mai 27]. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sctie/2017/prt0005_31_01_2017.html

6. Cirurgia Bariátrica - Técnicas Cirúrgicas - SBCBM [Internet]. SBCBM. 2022 [cited 27 May 2022]. Available from: https://www.sbcbm.org.br/tecnicas-cirurgicas-bariatrica/

7. JC; G. Myths surrounding bariatric surgery [Internet]. JAMA surgery. U.S. National Library of Medicine; [cited 2022 May27]. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27579624/

8. C; RLMS. Bariatric surgery: Nutritional Considerations for patients [Internet]. Nursing standard (Royal College of Nursing (Great Britain) : 1987). U.S. National Library of Medicine; [cited 2022 May 27]. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22930960/