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Repetição espaçada e recuperação ativa, você aplica essas técnicas em seus estudos?

Repetição espaçada e recuperação ativa, você aplica essas técnicas em seus estudos?

23/AGO/2022

Carreira Médica

O conceito agregado da palavra aprendizado se traduz pelo somatório de mudança comportamental intelectual e mental ou motoras psíquicas, que são induzidas e formadas com estímulos extrínsecos ao indivíduo1. Sob essa ótica, a formação médica requer um amplo aprendizado, que muitas das vezes se caracteriza como de difícil memorização, visto que são incontáveis os novos termos e vocabulário médico. 

 

Durante o curso de medicina, o acadêmico deve ser capaz de lidar com diversas atividades curriculares e extracurriculares, que envolvem desde atividades práticas e aulas teóricas, até apresentações. Além destas, os estudantes devem encontrar tempo para realizar suas atividades sociais e recreativas, como praticar exercícios e sair com os amigos. Nesse sentido, em meio ao cansaço e à sobrecarga de afazeres, os estudantes geralmente se veem sem tempo suficiente para realizar um estudo de qualidade e eficaz frente à grande quantidade de conhecimentos factuais relacionados à medicina2. Entretanto, pesquisas científicas têm mostrado estratégias de aprendizado que podem auxiliar o estudante nesses desafios, dentre elas a recuperação ativa e a repetição espaçada3.

 

A recuperação ativa é um método de aprendizagem que tem se mostrado cientificamente mais eficiente do que outros métodos. Isso, por se tratar de uma ferramenta que permite melhor condução e desempenho do estudante, já que facilita o aprendizado de conteúdos de difícil compreensão. Tal técnica se baseia na substituição da simples leitura de um conteúdo, como é geralmente feito, durante os momentos de estudo, para a obrigatoriedade de sujeitar a memória com escritas ou citações do conteúdo previamente aprendido. Por exemplo, ao invés de reler inúmeras vezes o nome de hormônios secretados e, respectivamente, suas células produtoras, deveria-se tentar escrevê-las em uma folha de papel ou decorá-las, pela pronuncia, em voz alta2.

 

Essa questão pode ser demonstrada por um experimento no qual comparou-se dois grupos em uma situação simulada da vida real. Eles deveriam ser capazes de decorar o nome de pessoas, como se estivessem conhecendo novas pessoas em uma festa. O primeiro grupo usava uma técnica passiva em que apenas viam o nome e sobrenome passivamente, em 4 páginas de um livro, enquanto o segundo grupo via cada nome completo apenas em uma página. Ainda no segundo grupo, havia o exercício de preencher os sobrenomes nas três páginas seguintes, caracterizando uma recordação ativa. Em seguida foi aplicado um teste com os dois grupos em que eram apresentados os 20 primeiros nomes que viram e eles teriam de se lembrar qual era o segundo nome. Os resultados desse estudo mostraram que o segundo grupo que usou a estratégia de recordação ativa conseguiu lembrar aproximadamente o dobro de nomes do grupo que estudou passivamente.4 Esses achados reforçam a ideia de que a recordação ativa é capaz de tornar o estudo e a capacidade de retenção de informações mais eficientes.

 

Em paralelo, outra técnica que permite aumento rememorando é a técnica de repetição espaçada, ou como denominada, sistema de revisão espaçada (SRE). Esse método tem como base a revisão. O SRE foi criado a partir da análise da curva do esquecimento, colocando em pauta o momento mais importante para revisar aquilo que foi aprendido5. Assim sendo, esse tipo de estudo não é voltado para o aprendizado, mas sim para o resgate de informações já armazenadas em algum momento. Nesse sentido, considera-se o SRE como método de evocação específica de termos e conteúdos previamente aprendidos, por meio de dicas e informações fragmentadas para acesso à memória, denominada memória alvo. Realiza-se uma construção em progressão de uma ou mais dicas que vão trilhando um caminho que permita resgatar a memória alvo, com objetivo de tornar disponível para uso, de forma a influenciar o conhecimento permanente a partir de conexões de associação6. A reativação da informação, de modo constante ao longo do tempo, é importante para que ela seja acessada em momentos oportunos, como durante avaliações ou seminários. É de grande relevância salientar que o uso dessa técnica, segundo a exposição, não se relaciona com questões pontuais e específicas de aprendizagem, mas serve para relembrar o conjunto de conceitos e idéias, assuntos e temas que tangem o esquecimento7. Essa revisão deve ser realizada da maneira que o estudante melhor se identifica, como com uso de flashcards, pequenas folhas de papel adesivo coloridos ou ainda aplicativos de computadores e celulares, como por exemplo, o Histology Guide – virtual microscopy laboratory, que permite análise de lâminas de diferentes tecidos humanos, vistos durante as aulas de microscopias.

 

Em suma, fica evidente a importância do uso de metodologias que auxiliam no conhecimento para um desempenho significativo no meio acadêmico, proporcionando maior facilidade de acesso a informações guardadas na memória que podem ser facilmente perdidas. Dito isso, as ferramentas usadas são de relevância para ampliar o conhecimento, por meio da memorização, com instrumentos de estudos mais aprofundados em determinado assunto científico, permitindo potencializar nossa formação como indivíduo e de apresentar melhores resultados. 

 

Autores: Comissão de Ensino Médico da Sociedade de Acadêmicos de Medicina de Minas Gerais (SAMMG) - Adryan Medeiros e Leandro Barbosa.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 


1- Velásquez, F. R. 2001 Enfoques sobre el aprendizaje humano. Venezuela. 


2- Radcliffe C, Lester H. Perceived stress during undergraduate medical training: a qualitative study. Med Educ. 2003 Jan;37(1):32-8.


3- Augustin M. How to learn effectively in medical school: test yourself, learn actively, and repeat in intervals. Yale J Biol Med. 2014 Jun;87(2):207-12.


4- Morris PE, Fritz CO, Jackson L, Nichol E, Roberts E. Strategies for learning proper names: expanding retrieval practice, meaning and imagery. Appl Cognit Psychol. 2005 Sep;19(6):779-98


5- Marcos W. A. Chaves, Daniela C. O. Silva. 2020. Utilização da Técnica de Repetição Espaçada na aprendizagem da Anatomia Humana. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/346632888_Utilizacao_da_tecnica_de_repeticao_espacada_na_aprendizagem_da_anatomia_humana_Use_of_spaced_repetition_technique_in_learning_human_anatomy. Acesso em: 16 abril de 2022


6- Baddeley A, Anderson MC, Eysenck MW. 2011. Memória. Porto Alegre: Artmed. 472p. 


7- Silva DCA, Carniello A, Carniello C. 2014. Utilização da técnica de repetição espaçada por meio de flashcards virtuais para o aumento da memorização na aprendizagem. Sinergia, São Paulo 15(4):298-302.